sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Primeira Guerra

Lista de filmes sobre a primeira guerra:



(Só assisti Flyboys e recomendo).


Novas armas


Trincheira da primeira guerra

Tanque de guerra da primeira guerra

Europa na Primeira Guerra

Europa após a Primeira Guerra Mundial


sábado, 12 de fevereiro de 2011

De desbravadores a construtores da nação

A serviço do Império, os engenheiros Theodoro Sampaio e André Rebouças ajudaram a delimitar as fronteiras brasileiras e a integrar o território.


Fotos: Reprodução do livro Theodoro Sampaio: nos sertões e nas cidades / Theodoro Sampaio durante um levantamento topográfico: engenheiro consertou erros e ajudou a definir fronteiras do país
Theodoro Sampaio durante um levantamento topográfico: engenheiro consertou erros e ajudou a definir fronteiras do país

É difícil colocar em prática a política de nacionalização de um país sem saber ao certo nem mesmo onde ele começa e termina. O imperador dom Pedro II se deparou com o problema de falta de delimitação de fronteiras brasileiras – então uma área com 8,3 milhões de metros quadrados – e se obrigou a criar uma comitiva de engenheiros para acabar com suposições a respeito do território. Os mapas existiam no período imperial – muitos foram feitos ainda na época da colonização –, mas boa parte deles havia sido criada a partir de deduções e generalizações bastante irreais. 

Um dos erros grotescos encontrados pelo engenheiro Theo­doro Sampaio (1855-1937) foi no seu estado natal, a Bahia. Con­tratado para trabalhar na região da bacia do São Francisco entre 1879 e 1886, pela Comissão Hidráulica do Império, analisando os mapas da época percebeu que a vila de Monte Alto estava a 15 léguas (mais ou menos 100 quilômetros) de diferença da sua localização verdadeira. A informação consta em seu diário intitulado Notas de Viagem, caderneta que guarda verdadeiras poesias geográficas (descrevendo paisagens e pessoas) e onde ele fez pinturas das regiões por onde passou.
“Desde o descobrimento do país tivemos viajantes estrangeiros que ajudaram a desenhar o Brasil, mas praticamente todos eles levaram consigo o que produziram”, afirma o arquiteto e urbanista Ademir Pereira dos Santos, autor do livro Theodoro Sampaio: nos sertões e nas cidades, recém-lançado pela editora Odebrecht. Restou a Sampaio e a outros engenheiros formados pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro (a primeira escola civil a ofertar o curso de engenharia) a “construir” a nação. “Sampaio se destacou porque, além da capacidade técnica, tinha habilidade no desenho e na escrita de textos eruditos. Ele conseguiu fazer descrições biológicas do que viu, por exemplo, porque foi aluno, no Brasil, do geólogo americano Orville Adalbert Derby, um dos únicos estrangeiros que ajudou no levantamento topográfico do país e ficou por aqui”, diz Santos.
Impressiona a precisão dos desenhos que Sampaio fez enquanto foi cientista viajante. Ao reproduzir a topografia, por exemplo, mostrou para quem não conhecia, por meio de um desenho em crayon preto, como era a Cachoeira de Paulo Afonso, em 1879. Por consequência, levantamentos como este ajudaram a pensar pela primeira vez em um Brasil eficiente em termos urbanísticos. “Diria que a Guerra do Paraguai [1864-1870] foi o estopim para que o Brasil começasse a pensar na integração do território, entre as ferrovias e a navegação fluvial, e na delimitação de fronteiras. Antes disso, as tropas tinham muitas dificuldades para chegar aos campos de batalha”, afirma Santos.
O primeiro trabalho urbanístico de Sampaio foi a tentativa de ligar o Atlântico ao Pacífico pelo Rio Paranapanema. “Antes não existia a cristalização do estado nacional, eram apenas pedaços de terra fragmentados. A unificação ocorre no final do século 19 e início do 20 por causa das duas grandes guerras”, diz Santos. E se havia uma grande preocupação que atormentava Sampaio, ela estava ligada ao inventário das quedas de água passíveis de exploração energética no Brasil – uma das maiores contribuições deixadas pelo engenheiro.
Sampaio era negro e a chegada da República foi uma grande decepção para ele, pois os republicanos faziam parte de uma elite cultural essencialmente branca. Ele não foi o único engenheiro negro da época a enfrentar tamanha decepção.
Missão imperial
Outro engenheiro baiano e também monarquista, André Re­­bouças é tido como outro pensador da construção do Brasil. Foi colega de Sampaio na escola de engenharia e se dedicou à modernização de portos e à construção de estradas para dotar o Brasil de infraestrutura compatível com a chamada Segunda Revolução Industrial, no século 19. No Paraná, é conhecido por ter projetado, junto com o irmão Antonio, a estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá.
“Eles são engenheiros convocados a uma missão imperial de organizar o território, conhecer e dar a conhecer este espaço para ser explorado”, afirma a historiadora Maria Alice Rezende de Carvalho, autora do livro O quinto século: André Rebouças e a construção do Brasil. Rebouças criou um plano de abastecimento e distribuição de água no Rio de Janeiro, durante a seca de 1870. Também construiu as docas da alfândega e as de dom Pedro II. “Ele foi acima de tudo um grande empresário, com muitos projetos de modernização de portos. Tinha um círculo de relações com banqueiros internacionais que o ajudou na captação de recursos”, conta Maria Alice.
Na década de 1880, o baiano deixou de lado a carreira de engenheiro para se dedicar às lutas abolicionistas e chegou a acreditar que somente o imperador poderia dirigir o processo de libertação dos escravos e uma eventual reforma agrária. “Por isso, quando o imperador foi banido, ele decidiu deixar o país”, afirma Maria Alice.
Fronteiras só foram definidas na República
Apenas um homem foi capaz de dar ao Brasil quase duas vezes o tamanho do território de Por­tugal. José Maria da Silva Pa­­ranhos Júnior, conhecido pelo título de barão do Rio Branco, não era engenheiro, mas seu papel na delimitação territorial brasileira foi decisivo, principalmente nas fronteiras. O diplomata foi ministro das relações exteriores entre 1902 e 1912 e em negociações, mui­­tas delas pacíficas, conquistou cerca de 173,9 mil quilômetros quadrados ao país, que antes pertenciam a países vizinhos como Perú, Bolívia, Uruguai, Argen­tina, Colômbia, Equador e Ve­­nezuela. Perdeu apenas um dos pedidos, o da Guiana Inglesa. Esta perda, porém, criou um clima de tensão entre Joaquim Nabuco e o barão: o primeiro foi nomeado pelo barão para ir, a Londres a fim de representar os interesses do país. Alguns historiadores dizem que ele perdeu porque não teve bons argumentos e um discurso convincente.
“Nesse período havia muitos contenciosos de fronteira e o Brasil passou a fazer medições do território. Além disso, juntou documentação histórica para provar que algumas terras pertenciam a ele. Foi o caso do Acre, conquistado após a documentação provar que existiam seringueiros brasileiros na região”, explica a historiadora Teresa Malatian, da Universidade Esta­dual Paulista (Unesp). Ter uma população brasileira vivendo em certo território já era um bom argumento para a conquista da terra. Mas nos lugares ermos, de grandes extensões territoriais, a disputa costumava ser mais acirrada. “Era preciso ter um árbitro neutro para julgar essas questões e muitos desses homens eram da Inglaterra e dos Estados Unidos”, lembra Teresa.

Curiosidade
Uma ajudinha a Euclides
Theodoro Sampaio foi um grande amigo do jornalista, historiador e escritor Euclides da Cunha (1866-1909). Quando Cunha foi convidado para cobrir como jornalista a Guerra de Canudos, que resultou na obra Os sertões, pediu ajuda a Theodoro para descrever com exatidão como era o território onde aconteceu a revolta. “Theodoro revisou boa parte do que Euclides escreveu para a primeira parte do livro, porque era um profundo conhecedor da localidade. Euclides não conhecia tão bem o território”, diz o arquiteto e urbanista Ademir Pereira dos Santos. Um dos trechos de Os sertões que narra o cenário de Canudos é esta: “Adiante, a partir de Monte Alto, estas conformações naturais se bipartem: do rumo firme do norte a série do grés figura-se progredir até ao platô atenoso do Açuruá, associando-se ao calcário que aviva as paisagens na orla do grande rio, prendendo-as às linhas dos cerros talhados em diáclase, tão bem expressos no perfil fantástico do Bom Jesus da Lapa.”
Sampaio passou uma outra parte da vida em São Paulo, onde foi responsável por diversas outras obras urbanas. Na capital paulista, que homenageou o baiano dando seu nome a uma rua, Sampaio foi engenheiro sanitarista e criou o bairro onde ficariam os hospitais, como o hospital de clínicas. Na época era uma região rural e deveria manter os adoentados longe da cidade. Também projetou ferrovias e defendeu a ampliação de portos como o de Santos e o de Salvador. Na capital baiana, projetou a reforma da igreja barroca Nossa Senhora da Vitória e tem parceria na autoria de projetos como o do Instituto Clínico e do Hospital Santa Izabel.

POLLIANNA MILAN